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03 julho 2007

Saudades Literárias


Quando tinha cerca de vinte anos entrei numa livraria e comprei o primeiro volume de "O Tempo e o Vento". Não sei exatamente porque, apenas dizia a mim mesmo que precisa ler Erico Verissimo. Foram momentos grandemente prazerosos de leitura e toda vez que olho os volumes na estante, sinto uma nostalgia deliciosa. Um encaixe perfeito de bons tempos e uma maravilhosa leitura.


Trabalhava numa cidade distante cerca de 90 Km. Durante a viagem de ida, por ter que acordar bem cedo, geralmente aproveitava o tempo para dormir. Na volta à tarde, lia um pouco e dormia quando me sentia cansado. Com Thomas Mann a minha rotina foi destruída. Lia na ida e na volta e ainda sentia vontade de continuar a leitura no fim da viagem. Ainda me lembro da tradução via Google do diálogo em francês no meio da obra (uma tradução péssima, é verdade, mas que agora parece linda). O livro teve o poder de criar milhares de sinapses na minha cabeça e sentia vontade de falar dele o tempo todo.


Prestava vestibular para o curso de Letras da UFMG e lembro-me de esperar o início das provas com Canetti nas mãos. Fiquei deslumbrado com a perfeição que é este romance. O melhor meio que encontro para classificá-lo é dizer que se trata de um conto gigantesco - pois não há nada sobrando ali, tudo é essencial. Depois que iniciei o curso o livro ficou associado em minha memória a uma vitória pessoal.


Já havia lido "A Metamorfose" de Kafka e para mim não era nada demais. Tanto falavam de Kafka que me obriguei a comprar outro livro. Da primeira a última linha o autor me hipnotizou. A mistura de racionalidade e absurdo das situações evidenciavam para mim a genialidade do autor. Depois reli "A Metamorfose" e consegui ver coisas que não via antes.


Finalizava minha primeira graduação e achava as aulas péssimas (e de fato eram). A mais interessante - embora também ruim - era de Psicologia. Dentre os materiais disponibilizados por e-mail, certa vez a professora enviou um trecho do livro de Guimarães Rosa. Lembrei-me que anterior a este trecho, uma professora de Filosofia já havia citado a obra em sala. Não me lembro exatamente que trecho era, lembro-me apenas que o que li me impressionou de tal modo que no mesmo dia apanhei um exemplar na biblioteca e comecei a leitura.


Recém casado, minha esposa comprou o livro pois fora escolhido para um vestibular que ela iria prestar. Drummond foi o meu primeiro contato com a literatura adulta. Não me lembro bem, mas creio que tinha uns nove anos quando fui até a biblioteca pública de minha cidade e apanhei um livro qualquer dele emprestado. Quando li novamente Drummond essas memórias retornaram e fiquei pensando no menino que fui, um menino que, contrário à lógica do país, visitava semanalmente a biblioteca pública.


O último grande livro que li, a última obra-prima. Depois dele, li muito, claro. Li livros muito bons, livros que me prenderam, mas nenhum deles produziu a certeza de que estava lendo uma obra-prima como este livro de Coetzee. Dos livros que você acaba com a certeza de que irá levá-lo para o resto da vida e que um dia certamente irá relê-lo.
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