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14 agosto 2006

Martin Kohan no 7º Salão do Livro


Como já anunciado aqui, quinta-feira, dia 10, começou o 7º Salão do Livro de Belo Horizonte. Estive na Serraria Souza Pinto e fiquei surpreendido pelo número pequeno de visitantes em comparação ao ano passado. A programação, em compensação, é uma das melhores que já montaram. Ontem (em pleno domingo), foi possível ouvir o simpático Martin Kohan sem confusão ou brigas para pegar uma senha para o evento, que são distribuídas uma hora antes de cada palestra. Pelo contrário, assustei-me quando o acesso ao pavilhão Mário Palmério foi liberado e somente alguns poucos entraram. O serviço de tradução simultânea também tentou achar um meio adequado para não interromper a cada frase o escritor, mas por fim acabou por deixá-lo falar em espanhol, sem traduzir nada. Não chegou a ser um problema já que o autor fala dum modo pausado, tornando fácil a assimilação das idéias.

A palestra começou com a entrevistadora Graciela Ravetti de Gomes perguntando sobre a obra "Duas Vezes Junho" e sua famosa frase inicial. Para quem não conhece a frase é "A partir de qué edad se puede empesar a torturar a un niño?" - na tradução a frase é "A partir de que idade se pode comesar a torturar uma criança?". O conteúdo, que deveria causar grande impacto, é completamente ignorado pelo recruta que a encontra, que se preocupa apenas com o erro ortográfico na frase.

Kohan falou sobre suas experiências durante a ditadura argentina, que começou quando o autor tinha apenas nove anos e que por isso, cresceu sem ter muita idéia da atmosfera de horror e medo que pairava sobre a nação. Falou também sobre o futebol e seu papel na propagação de idéias nacionalistas, idéias que serviam a ditadura. Por exemplo, citou que influenciado pela propaganda, muitos argentinos juram que viram a Copa de 78 em cores, embora esta não foi transmitida em cores para o país. Na obra, fala-se de duas derrotas argentinas: na Copa de 78 e 82. Segundo o autor, escrever sobre as derrotas e não sobre a vitória, era uma maneira de levantar a memória.

Por último, quando perguntado se haveria algum problema em se escrever textos de crítica literária e ficção, o escritor respondeu com muita naturalidade, dizendo que não há uma divisão de antes e depois, mas sim um funcionamento mais dinâmico.

Após a palestra conversei com o escritor sobre as similaridades entre os dois países e perguntei a ele sobre como ele vê os problemas de distribuição e disseminação da literatura argentina em nosso país. Na opinião dele o problema não se restringe apenas ao eixo Brasil-Argentina, mas a toda América do Sul, com as exceções de sempre. Também, na opinião do escritor, um grande problema é a falta de boas revistas populares de literatura, algo que no Brasil não chega a ser tão grave como em outros países e citou a revista Cult, que ele disse conhecer e gostar.

Kohan fala novamente hoje, junto com Paloma Vidal, na mesa-redonda cujo tema é “A criação literária no período da repressão política”. Quem quiser procurar mais informações sobre literatura latino-americana poderá encontrar, por exemplo, um texto que considero básico da Paloma chamado "Diálogos entre Brasil e Chile - Em torno às novas gerações", publicado no livro "A Literatura Latino-Americana do Século XXI" que fala inclusive sobre Alberto Fuguet, outro escritor que participará do Salão do Livro neste ano. Logo mais, às 18 horas, João Gilberto Noll será o entrevistado. Se você estiver em Belo Horizonte, não pode perder. Estarei lá e amanhã direi como foi. Se quiser saber mais sobre a programação entre no site do Salão do Livro clicando aqui.
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