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19 abril 2005

Leitores e seus Hábitos Estranhos IV - Embaralhando Bibliotecas

A não ser que você tenha feito um curso de biblioteconomia, ou seja um bibliotecário daqueles que sabem de cor qualquer ISBN, organizar sua biblioteca causa sempre alguns inconvenientes. As sutilezas deste ato aparentemente comum para qualquer ser humano nem sempre são percebidas. O primeiro inconveniente (e mais óbvio) é a falta de espaço. Uma biblioteca é a prova clara de que dois corpos não ocupam simultaneamente o mesmo espaço. Sendo assim, sobrar livros sem prateleiras é quase um pré-requisito de qualquer biblioteca pessoal. E não se engane tentando colocar seu "Ulisses" à força numa prateleira lotada que não adianta, se não houver um espaço adequado ele ganhará vida e se transformará num gato que evita a bacia d'água. Portanto, o primeiro passo é a escolha roleta-russa: separar quais livros ganharão seu lugar na estante e quais serão confinados ao limbo de caixas ou armários. E não adianta, por mais que você saiba que já leu aquele "Trabalhadores do Mar" e que não pretende lê-lo novamente tão cedo, ele sempre vai te olhar com aquela cara de piedade pedindo para não ser ignorado. Uma tarefa, portanto, que exige um grande desapego e sangue frio.

Findada a primeira etapa, é preciso enquadrar os livros restantes em alguma ordem lógica ('lógica' = que faça algum sentido pelo menos para você, esqueça as definições da palavra que são dadas pelos dicionários). Se a biblioteca for compartilhada o problema aumenta exponencialmente. Seu pai quer os livros organizados em ordem cronológica a partir da data de aquisição, sua mãe quer que os livros estejam organizados por cor para 'ficar mais bonitinho', seu irmão quer todos os livros de ficção científica juntos num lugar de destaque (afinal TODO mundo gosta de Isaac Asimov, não é?) e sua esposa, bem, sua esposa tem uma ordem própria que até hoje ninguém entende mas que deixa o ambiente mais 'clean'. Daí não existe outra forma senão disputar cada milímetro da estante no palitinho.

Mas, a fim de reduzir a complexidade do problema, trataremos do caso simples: sua estante é realmente só sua e você é quem manda nela. Sendo assim, qual é o melhor critério? O mais comum é ordenar seus livros por sobrenome do autor. O problema poderia ser solucionado assim se não fosse o inconveniente de você duas semanas depois encasquetar de querer logo um livro de Edwin A. Abbott. Todos os seus livros da estante terão que andar para aparecer um lugar, o que aumenta (e muito!) a probabilidade de você deixá-lo lá no balcão da loja, só de pensar no trabalho que isso acarretará. Pois bem, você imagina então que a solução será separar primeiro por literatura dos países e depois ordenar por autor. Daí, literatura húngara, por exemplo, que você lê menos, poderia estar no princípio da estante e as literaturas que você lê mais seriam colocadas no fim, certo? Errado. Esta solução abre espaço para os 'enchedores de saco' que freqüentam sua casa fiquem martelando em sua cabeça que Vladimir Nabokov deveria estar entre os americanos e não entre os russos. E os 'enchedores de saco mor' nem comentarão, quando você der as costas vai lá a mãozinha trocar os livros de lugar. Fora aqueles desinformados que sempre perguntarão: 'Que diabo de ordem é essa?!?'.

Depois de tudo isso e você finalmente encontrando o método ideal para organização deste baralho de páginas, eis que vem o inevitável: é preciso mudar de apartamento! Todos os seus livros deverão ser transportados! Quando você menos espera, os responsáveis apanharão seus livros e os colocarão em qualquer caixa, sem qualquer ordem. E aí, no novo apartamento, a discussão sobre como organizar tudo nas estantes começa novamente...
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