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14 março 2005

A Revolução Digital

Num post com o título "A Dialética da Ameaça Anônima" o Idelber Avelar escreveu:

"O email colocou a última pá de cal na correspondência como gênero literário. Acabaram-se aqueles romances escritos em formas de cartas. Já não há cartas. O email não é uma carta em forma eletrônica. É outro gênero, com outras regras. Prá começar, não dura, não se guarda."

Andei pensando a esse respeito e em pouco tempo fiquei imaginando em como a internet mudou, tem mudado e continuará mudando a forma de nos relacionarmos com outros, inclusive com nossos autores preferidos. Antigamente, se não éramos amigos do escritor que gostávamos, o texto dele chegava até nós depois de um longo tempo entre sua escrita e sua publicação. O autor rabiscava, rabiscava, rabiscava, depois encaminhava os originais para a editora, aquele texto passava na mão de uma série de revisores, ia e voltava uma dezena de vezes em muitos casos, até que era publicado e podíamos desfrutá-lo. Embora tradicionalmente a coisa ainda corra assim, a internet criou uma série de alternativas que beneficiam tanto o escritor como o leitor.

Antigamente, um escritor tinha uma única oportunidade de atingir seus leitores: ser reconhecido por alguma editora que resolvesse ampliar a divulgação de sua obra através não só da publicação dela, mas também da sua disponibilização em diversos pontos de venda. Exposição e propaganda em troca de grandes vendas, essa era a lei. Com a chegada dos weblogs, os populares blogs, o escritor tem em suas mãos uma grande ferramenta que faz justamente isso: divulga o trabalho do autor. Como conseqüência, ao invés de termos acesso a um texto muitas vezes "censurado" por ter passado de mão em mão até ser publicado, hoje o leitor tem acesso a um texto mais "cru". Às vezes, quase que acompanhamos uma obra desde a sua concepção até o seu nascimento. Em certo sentido, somos em parte responsáveis, através de críticas na caixa de comentários, por modificações significativas ou até por uma idéia que faz nascer outra boa obra.

Exemplifico essa aproximação citando meu próprio caso. Os textos que posto aqui são quase todos fruto da vontade do dia. Raras vezes escrevi algo para "estocar" e ser usado numa ocasião de emergência. Isso acaba tendo duas conseqüências imediatas. A primeira é que vez por outra sou mal interpretado, já que o texto é digitado na hora e muitas vezes nem consigo relê-lo (não por preguiça, mas por falta de tempo e como sempre estou ansioso para vê-lo disponível é quase inevitável que isso ocorra). O segundo ponto é que o leitor é levado a tirar suas conclusões e o blog vive sendo influenciado pelo "clima" do dia ("puxa, hoje ele está inspirado!" ou "que porcaria de texto, será que esse cara é tão idiota assim?"). Não consigo imaginar nada mais próximo, no caso de um escritor. Ao lermos uma grande obra publicada depois de muito tempo e revisões, vemos algo único, embora uma ou outra crítica apresente novos ângulos. No caso de alguns autores que possuem um blog ou uma página na internet, podemos até transformar a obra, ligando fatos do dia a dia da vida do autor e suas leituras, com o que lemos em sua obra.

Agora vamos extrapolar: imaginemos o futuro. Não sei se o formato atual do livro irá acabar, mas creio que o formato digital poderá crescer ainda mais. Imagine você tendo a oportunidade de "assinar" um escritor, assim como você assina uma revista. Carregando seu leitor de e-book numa viagem, você em meio aos e-books disponíveis, recebe uma mensagem informando que mais um capítulo da obra que você vem acompanhando está disponível para sua leitura. Através de hiperlinks, você poderá consultar imediatamente as referências a outras obras. Imediamentamente, começa um debate a respeito da ambigüidade de certo trecho ou a quê o autor estava se referindo numa parte obscura da obra. O debate pode ter até mesmo a participação do autor, com comentários que fazem crescer ainda mais a discussão. Teremos uma obra viva na mão, ainda mais rica e muito mais próxima. Talvez daí venha a nascer um novo gênero literário: a publicação dos logs dessas discussões entre autor-leitor. Como num DVD, veríamos além da obra, o "making of" dela.
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