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01 março 2005

Informação em Excesso

"Ficções" de Jorge Luis Borges é uma obra-prima. Se retirássemos o conto "A Biblioteca de Babel" do livro, ainda assim seria uma obra-prima. E se a obra fosse somente este conto, ainda seria uma obra-prima. "A Biblioteca de Babel" junto com "Um Artista da Fome", de Kafka, são para mim os dois melhores contos da literatura mundial. Toda vez que procuro algo na internet e não encontro, por causa do excesso de informação, é inevitável a sensação de que o ser humano criou sua biblioteca de Babel.

Ao lermos o conto, vemo-nos como um bibliotecário desta imensa biblioteca de conhecimento que é a internet. É bem frustrante pesquisar algo na internet e não encontrar. Sentimos que a informação está disponível em algum lugar que não sabemos, ou em alguma língua que não compreendemos. Em alguns casos, a massa de informações inúteis que chegam até nós é absurda e perdemos muito tempo separando informações que nos servirão algum dia daquelas que não terão qualquer utilidade. Borges, no seu conto, descreveu o problema conteporâneo do excesso de informação e suas palavras são como uma profecia desta nova modalidade de ignorância.

O próprio Borges é um exemplo do caos que é a internet. Escritor muito culto, freqüentemente em seus escritos ele cita autores e obras. O interessante é que nem sempre essas citações são de fato reais. Algumas vezes o autor é real e sua obra uma fantasia inventada. Em alguns casos, obra e autor são reais, mas o trecho citado não existe. O que poderia ser mais atual? A internet é uma armadilha para os viciados em informação. Muitas vezes, notícias que lemos são falsas e autores citados nem sequer existem. E-mails com textos medíocres atribuídos a escritores consagrados é algo constante. Borges e sua obra são como que um prenúncio do que viria a ser a internet.

Apesar do imenso volume de informações, ainda não chegamos ao ponto de ter certeza de que em "alguma prateleira" da internet encontram-se "livros preciosos" e "inacessíveis", o que torna a nossa angústia um pouco pior do que a angústia do bibliotecário. Certamente ninguém acredita que haja "um livro que seja a cifra e o compêndio perfeito de todos os demais", ou mesmo que este livro exista e é inacessível. Não há a "certeza de que tudo está escrito" e acredito que essa certeza nunca virá. Mas algo que vemos de modo claro é que mesmo assim, colocar ordem nesse caos de informação não é nada fácil.
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