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11 março 2005

Bartleby de Melville - Parte II

Bartleby, assim como o artista da fome de Kafka, tem a incrível incapacidade de se relacionar com o mundo ao redor. Se isolam por permanecerem fixos nos seus objetivos. Embora o narrador se esforce em entender o por quê de Bartleby continuar com sua determinação de não trabalhar, ele falha e conseqüentemente não consegue ajudá-lo a novamente se ligar ao mundo em que vive. A descrição de Bartleby faz com que imaginemos um fantasma e não um homem. Pálido e magro ele no começo da obra trabalha sem demonstrar qualquer interesse no que faz, simplesmente executa seu trabalho como uma máquina. Mas a cada página, percebemos que ele vai ficando cada vez mais distante do mundo em que vive e cada vez mais vai renunciando estar inserido nele, até que no final vem a renúncia-mor e ele morre. É interessante que a expressão em inglês que ele utiliza para expressar sua rejeição ("I would prefer not to") não é uma simples negação ("I will not"), ou seja, ele é firme porém expressa isso dum modo passivo, o que causa estranheza (em português a estranheza é mais sutil, já que não é muito diferente dizer ao patrão "eu prefiro não fazer" ao invés de "eu não farei").

Outro aspecto interessante é que "Bartleby" é uma das primeiras grandes histórias que falam da insatisfação com o trabalho. O vazio da vida moderna é um importante tema da obra. A descrição do ambiente de trabalho nos faz lembrar uma repartição pública burocrática e isolada. A esterilidade do ambiente é notado quando o narrador descreve o ambiente em que as janelas só mostram muros, isolando os seres humanos do mundo onde existe outros seres vivos. A situação é ainda pior à noite, quando Wall Street é abandonada. Embora, o narrador seja descrito como um homem de sucesso, ele mesmo diz que foi vítima do progresso: no futuro, seu posto será extinto por ser considerado redundante e desnecessário. O próprio Bartleby, como o narrador diz no final, parece ter sido vítima da modernidade.

"Bartleby" é uma história simples, mas muito bem contada. Quem conhece a obra de Kafka, pode perceber muitos pontos parecidos. Também já falei aqui sobre o absurdo como ponto fundamental de alguns autores e obras. Quem ainda não leu o texto, leia-o clicando aqui. Sem querer acabei encontrando alguns pontos para serem comparados com outra obra que gosto muito e que deverei falar a partir de terça-feira: "O Processo" de Kafka. Tenho algumas idéias na mente sobre a obra de Kafka e "Bartleby" poderá ampliar mais um pouco essas impressões.
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